Tudo sobre a região do Anhanduizinho
Campo Grande, quarta-feira, 29 de novembro de 2023.
Candomblistas e umbandistas se reuniram no Lago do Amor para as oferendas a Oxum (Foto: Valdenir Rezende/Correio do Estado)
Sem mar, rio ou até mesmo um lago onde possua águas correntes, a solução encontrada por um grupo de devotos e simpatizantes da religião africana e brasileira, o Candomblé e a Umbanda, ainda tem que driblar os preconceitos existentes a respeito das duas entidades.
De origens diferentes, o candomblé, uma religião animista, original da região das atuais Nigéria e Benin, trazida para o Brasil por africanos escravizados e aqui estabelecida, na qual sacerdotes e adeptos encenam, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com forças da natureza e ancestrais.
A umbanda nasceu no rio de Janeiro, entre o fim dos séculos XIX e o início do século XX, que originalmente congeminava elementos espíritas e bantos, estes já plasmados sobre elementos jeje-iorubas e hoje se apresenta segmentados em variados cultos caracterizados por influências muito diversas.
Localizada na cidade Universitária, no bairro Pioneiros, o Lago do amor recebeu pela terceira vez consecutiva um grupo de simpatizantes das duas religiões, mas não se sabe ao certo o número de devotos que participaram da oferenda a Oxum, realizada nesse domingo (19), à tarde nas águas do Lago do Amor. Oxum, segundo os seus praticantes, trata-se do protetor das águas, fertilidade e do amor.
Essa foi a terceira edição do evento e a mesma só foi possível graças ao apoio da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que permitiu que a oferenda fosse realizada no Lago do Amor e que chamou a atenção dos seus frequentadores.
Durante os pedidos feitos a Oxum, por ocasião das oferendas, participantes de outras crenças religiosas e até mesmo por parte dos frequentadores do Lago do Amor, aproveitaram para fazerem os seus pedidos e de forma uníssona, pediram mais fraternidade e tolerância à diversidade de religião entre todos.
As violências registradas recentemente em alguns templos em outros Estados do País, também foram lembradas e por isso, os adeptos e simpatizantes das mesmas pediram mais reflexão quanto ás intolerâncias.
O babalorixá Lucas de Odé, da casa Ilê Dará, confirmou a realização do evento pelo terceiro ano consecutivo destacando que o mesmo tem a cada temporada ganhando novos participantes, fato esse que não ameniza o preconceito. “Estamos agradecendo ao Orixá (Oxum) que é o protetor das cachoeiras e dos rios e para essa oferenda, decidimos nos reunir com outros irmãos, de outras religiões, pois, infelizmente ainda enfrentamos muitos preconceitos e com isso, estamos tentando desmitificar tudo isso”, afirmou.
Para exemplificar os mais variados tipos de preconceito que as religiões enfrentam no cotidiano, “Pai” Lucas citou como exemplo as empresas de aparelho de som que foram contatadas para prestar o serviço no deslocamento até o Lago do Amor e segundo ele, nada menos que cinco empresas prestadoras desse tipo de serviço se recusaram a fazê-lo, tão logo tomaram conhecimento eu se tratava de uma festa de Candomblé e Umbanda. Em contrapartida, ele disse que tem fé em Deus tal como qualquer outro cidadão e citou uma das diferenças que “é a fé em Deus que se reforça no culto à natureza e a prova disso é que as oferendas são deixadas no lago e em nada prejudicam a natureza e nem o Meio Ambiente, que temos respeito e amor”, afirmou.
Ele destacou que a ideia de tornar a festa de oferenda a Oxum, um evento religioso, mas coletivo foi o “pai” Edson, do Axé Pioneiros.
Para o idealizador do ‘Presente de Oxum’, o Babalorixá Edson Fernandes, além da simbologia ritual, o Karodô (presente) traz uma mensagem simbólica de união e empoderamento, especialmente em face dos diversos casos de intolerância religiosa ocorridos em todo o País, especialmente no Rio de Janeiro.
“Sempre foi um desejo nosso fazer a manifestação em Campo Grande e chegamos à terceira edição. Daqui pra frente, tudo o que queremos é que essa e todas as manifestações da nossa fé sejam respeitadas e que sejamos vistos como aquilo que somos: religiosos” comenta o Babalorixá.
.
0 Comentários
Os comentários estão fechados.